A emblemática frase de Rima Laibow infelizmente não se trata de um achismo. Neste texto, quarta parte do conteúdo sobre nutricídio (confira os outros textos clicando aqui), vamos falar um pouco da monocultura e como ela define nossa forma de comer. Ouvimos com frequência “eu escolho comer arroz, feijão e bife todos os dias”, “não vejo problema em comer salsicha”, “frutas é para quem tem dinheiro” mas não é bem uma escolha. 

Após as grandes guerras, na década de 40, o mundo observou uma industrialização de diversos processos produtivos, entre eles, a produção e preparo de alimentos. Modificação de sementes, cruzamentos e transgenia foram algumas das ‘tecnologias’ desenvolvidas visando maior produção por um custo menor. O problema disso é que a perda de nutrientes virou uma regra, assim como a monotomia na forma de comer. 

Este movimento nos definem até os dias de hoje. É difícil, reconheço, consumir produtos 100% naturais, sem sal, sem açúcar, e carnes no geral, tão reconhecidos pelas mais de 10 mil papilas gustativas das nossas línguas. O paladar viciado também em farinha de trigo e manteiga, por exemplo, até estranham e desestimulam o consumo das inúmeras hortaliças, frutas e grãos disponíveis na natureza. 

Com a alta demanda por alguns produtos, as indústrias, que criaram esse desejo, criam os desertos alimentares, ou seja, uma destruição em massa de uma localidade com uma biodiversidade imensa, com animais, plantas e árvores comestíveis convivendo de forma equilibrada, para fazer a monocultura: plantação de uma única espécie vegetal ou criação de uma única espécie animal. As monoculturas vegetais mais famosas no Brasil são a soja (que inclusive alimenta a indústria de ultraprocessados e o gado), o trigo, a cana de açúcar e o café.

Cabe mencionar que a mesma indústria dona da monocultura é quem produz os remédios que precisamos tomar por consumir durante anos a fio os alimentos cheios de veneno produzidos por eles. É um lucro desenfreado em cima de doenças como diabetes, hipertensão e diversos tipos de câncer. Muitos movimentos lutam contra isso, pregando a policultura, que visa o cultivo de diversas espécies em um mesmo local, fomenta pequenos produtores e deixa a natureza agir por si. A permacultura é um desses movimentos que tem por objetivo a sustentabilidade e o cuidado com a terra, com as pessoas e ainda divide os excedentes. 

Em 2018, o Ministério do Desenvolvimento Social, extinto também pelo atual presidente, publicou um primeiro mapeamento nacional de desertos alimentares com o objetivo de entender de que maneira renda, região e tipo de estabelecimento influenciam na oferta de alimentos. Há críticas ao estudo, como por exemplo, a falta de dados mais completos, em especial nos municípios médios e pequenos, mas a constatação geral é que quanto maior a cidade, menor a disponibilidade de alimentos frescos e maior a aquisição de ultraprocessados. Clique aqui para ler o relatório completo.

No próximo texto vamos dar dois exemplos emblemáticos da atuação da indústria alimentícia em periferias e povoados, que antes de sua chegada até tinham problemas, mas que observaram uma piora em suas saúdes por conta da ação predatória e capitalistas das gigantes. Até breve!