Segmentando para a vivência das pessoas negras, doenças como hipertensão, diabetes e acidente vascular cerebral (que inclusive integram o grupo de risco da covid-19), e seus fatores de risco, tabagismo, consumo abusivo de álcool, falta de atividades físicas e baixo consumo de frutas e hortaliças, são resultados palpáveis de uma abolição mal feita, que jogou este grupo social para uma vulnerabilidade social, política, cultural, ambiental e econômica. O Boletim Epidemiológico da Secretaria Municipal de Saúde da cidade de São Paulo, por exemplo, evidencia que o risco de pessoas negras morrerem pela covid-19 é 62% maior em relação à população branca no município. 

 

A pesquisa “Vigitel 2018 — População Negra”, realizada pelo Ministério da Saúde, informa que o consumo regular de frutas e hortaliças é 33% menor na população negra brasileira em relação à branca. Aponta ainda que 39% dos brancos consomem esses alimentos ao menos cinco dias na semana, o percentual cai para 29% na população negra. Isso sem aprofundar a questão dos agrotóxicos. Quais frutas e hortaliças são essas? Em 15 anos, o consumo de agrotóxico no nosso país aumentou mais de 180%. Nos últimos meses, 118 desses venenos foram liberados. 

 

Acredito que a criação e, principalmente, a execução de políticas públicas direcionadas são essenciais. Para além dos dados, são necessárias reparações históricas que nos colocaram enquanto grupo nesta situação de vulnerabilidade. O estímulo ao consumo de pequenos produtores negros, de bairros periféricos, quilombolas, é relevante. Os próprios produtores precisam saber que aquela atividade vai agregar valor para seu sustento.

 

Para citar um exemplo do campo político, a Comissão de Políticas para Segurança Alimentar e Nutricional das Populações Negras, do Conselho Nacional de Segurança alimentar e Nutricional (Consea), apresentou a intenção de incorporar a temática racial na construção de uma Política de Segurança Alimentar e Nutricional, de potencializar e divulgar ações já desenvolvidas junto à população negra nesta área, de fortalecer a produção e comercialização de alimentos por populações remanescentes de quilombos, entre outras ações. No entanto, o Consea, considerado como parte fundamental para a população em termos de segurança alimentar e nutricional, foi extinto no primeiro dia do atual governo brasileiro. 

 

A insegurança alimentar soma-se à diversas outras formas de genocídio. É uma corrida pela sobrevivência no país da ‘simpatia’ e do ‘acolhimento’. Vamos fazer a nossa parte?