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Precisamos falar sobre o nutricídio

Uma das práticas que incentivo fortemente é a reflexão sobre a indústria dos alimentos processados. Busco diariamente por formas de driblar esta imposição na forma de comer que atinge praticamente o mundo inteiro. Encaro a alimentação como um ato político pela qualidade de vida merecida, e expando esta ideia para a Free Soul Food, empreendimento onde trabalho com a minha mãe e com inúmeras outras mulheres negras. 

Enquanto mulher negra, brasileira, que trabalha com alimentação saudável e inclusiva e também uma observadora dos inúmeros dados que apontam o grupo social ao qual pertenço como mais predisposto a adquirir e desenvolver doenças crônicas como diabetes e hipertensão, ou morrer de Covid, entre outras razões, por não ter imunidade o suficiente, para mim é uma necessidade falar de nutricídio, ou seja, o genocídio nutricional.

O nutricídio é um termo cunhado pelo doutor Llaila O. Afrika, estudioso da saúde holística africana. Ele discute as mudanças que as invasões europeias levaram para a saúde das inúmeras populações negras, desde a antiguidade até os dias atuais, que por conta da segregação, e das desigualdades sociais provenientes dela, encontram nos alimentos cheios de agrotóxicos, transgênicos e ultraprocessados opções mais baratas de se alimentarem, do que em alimentos naturais e/ou orgânicos, que antes até eram plantados por essas mesmas pessoas ou seus antepassados. 

Esta alimentação trouxe doenças e vulnerabilidades difíceis de superar, e não apenas para moradores dos países da África, que por séculos foram discriminados e afetados por guerras, sequestros e outras violências, mas também para os integrantes da diáspora. 

O Brasil entra aqui. As formas de segregação ainda hoje são percebidas em bairros periféricos e em zonas rurais. Recomendo, para reflexão, o documentário Dia de Pagamento, dirigido e roteirizado pela jornalista Fabiana Moraes, que, entre outros assuntos relevantes sobre o Sertão brasileiro, fala um pouco da alimentação. 

Por essas questões, trabalho pelo resgate e pela difusão de uma alimentação inclusiva, feita com ingredientes usados integralmente há muito tempo por nossos antepassados. Também atuo por uma autonomia alimentar que valorize alimentos de origem vegetal, principalmente aqueles adquiridos pela filosofia de quilômetro zero, que valoriza produtores locais. 

Nos próximos posts vou explicar um pouco mais sobre nutricídio, citando outros autores que estudam a questão, como a nutricionista Ama Mizani e a doutora Rima Laibow. Também irei apresentar mais dados sobre o Brasil e alguns casos sobre a indústria alimentícia.

Qual a sua opinião sobre o assunto? Caso tenha uma empresa que trabalhe com alimentação, quais táticas você emprega para diminuir essas desigualdades? Vamos trocar!

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